©2Portzamparc - Elizabeth de Portzamparc arquiteta
©2Portzamparc - Elizabeth de Portzamparc arquiteta

Museu Jean Cocteau

França - Menton 2008 › 2011
Leia mais

Um grande espaço de altura dupla traz uma visão global da museografia ao mesmo tempo em que serve de apoio a um rico percurso em preto-e-branco cheio de curvas: mergulho e ascenção, imersão no inconsciente e num estado de quase-sonho, de sonho acordado, para enfim entrar nas “pesquisas dos surrealistas que exploram as vias do inconsciente através dos sonhos”. Da recepção podemos imaginar mais do que podemos ver através de uma parede de vidro texturizado semi-transparente. A “descida ao inferno, a travessia do espelho-mundo dos vivos e dos mortos”, como na obra do poeta.

É essa ideia de labirinto e de surpresas que, pela aparente bagunça do percurso repleto de suportes semi-transparentes, como redes de pesca, evoca a continuidade imprevisível e a imbricação entre os diversos aspectos do artista. Entramos no seu universo.

Esse teatro “piranesiano” surpreende pelos seus volumes que fazem as vezes de espaço de projeção: duas “torres” negras e uma branca retroiluminadas, ligadas por duas passarelas obliquas, espaço que sintetiza, como nos desenhos e gravuras do artista, o claro, o escuro e o obscuro. Esse ambiente, propício ao enigma Cocteau, é inspirado nos desenhos de Piranèse, mestre absoluto dessa arquitetura de sombras e de claridades, na qual a luz conduz nosso olhar para as penumbras afim de que desvendemos seu mistério.

Era preciso criar nesse museu uma atmosfera que refletisse a força das oposições da luz e das trevas, para provocar, através de jogos de sombras, “a emoção que faz ver, pensar, refletir e sonhar”. “Vou escrever no filme como escrevo com tinta”, disse Henri Alekan, cúmplice do poeta na arte claro-obscura.

A escolha dessa cenografia de iluminação e, acima de tudo, da estética do preto-e-branco se impunha. O onirismo, o mistério e a força dos contrastes e das sombras refletem as contradições da obra e da vida de Cocteau. O preto-e-branco não são mais cores, mas formam um jogo de forças antagônicas propício aos devaneios, às surpresas e às ilusões. A cenografia onírica reflete as contradições onipresentes em sua obra e na sua personagem e instala um percurso de iniciação ao universo de Jean Cocteau, um passeio em sua vida e em sua obra.

A riqueza do percurso e a imbricação das sequências e dos volumes refletem o universo inalcançável desse grande artista: o emaranhado de seu pensamento, das formas de expressão utilizadas por ele e a enorme riqueza criativa de Jean Cocteau. O público viaja no labirinto desse percurso museográfico que tenta reproduzir as andanças do poeta em sua própria obra.

Concurso, projeto vencedor

PROGRAMA

Projeto e construção do Museu Jean Cocteau, da sua museografia e planejamento dos espaços urbanos.

CLIENTE

Cidade de Menton

ARQUITETO

Agence Rudy Ricciotti

MUSEOGRAFIA E PLANEJAMENTO URBANO

Elizabeth de Portzamparc

ÀREA

Total: 2.650 m²
Espaços de exposição: 900 m²
Espaços públicos: 4.200 m²

©2Portzamparc – Elizabeth de Portzamparc arquiteta